Klimt

30 de janeiro de 2008

Ver-te

Há sítios em que eu sei que te posso ver. Claro que sei. O Bairro Alto é um deles. Fui lá muitas vezes e fugi dos sítios onde estavas. Onde estivémos. Porque não te queria ver. Porque recordar o que passei nesses locais ainda é difícil. Nunca te vi. Sabia onde não te ver. Pensei que poderia não acontecer. Muito menos naquela noite, naquela rua, naquele bar. Estava tão bem disposta nessa noite! Falava com um amigo que não via há muito tempo e que curiosamente conhecia uma amiga minha. Falávamos sobre isso. Sobre a pequenez do mundo, sobre uma alcunha dele que eu desconhecia e sobre episódios engraçados da nossa viagem a Praga. Quando os meus olhos vêm a 100 metros um amigo dele. Foi como se um murro me atingisse o estômago. Continuei a rir e a falar energicamente. O medo dele poder estar lá...e continuei a falar e rodei o olhar como se acompanhasse um gesto do discurso e vi-o. Meio escondido e a olhar de soslaio. Só me lembro dos olhos azuis. Mais um murro e senti o corpo a tremer e sem saber o que fazer. Sempre a falar energicamente. A imagem de que não se passava nada e que eu estava muito bem. Eu que detesto estas merdas das aparências. Não sei se ele me viu olhar. Espero que não. Só sei que deixei passar um tempo, subi para junto dos meus amigos e disse à Sílvia. Ela vi-o. Perguntou se estava de pullover azul. Eu nem sabia. Só me lembro dos olhos e do olhar,da minha tristeza e da pseudo e excessiva demonstração de alegria. Mas era ele. Ela diz-me que eu estou bem. Senti-me tão estúpida! Não queria falar-lhe. Não conseguia. Claro que fiz pior! Dei imagem de parva, antipática e distanciei-me de uma pessoa que queria manter como amigo. Só me apercebo destas coisas quando me acalmo, deito a cabeça na almofada e fico enraivecida por não reagir às situações. Porque nada aconteceu. Ninguém me fez mal. Acabou apenas.
Ele passou por nós. A minha amiga diz que hesitou em falar-me a à Sílvia, que estávamos de costas e falávamos sem parar. Não sei. Não vi. Fomos os dois parvos. Eu ainda mais parva. Porque o amigo deve ter visto que eu o vi. E ele é capaz de ter visto que eu ou algum dos meus amigos o viu. Eu sempre na minha máxima estupidez. Fui mesmo parva!! Um beijo, um olá tudo bem?, um o que tens feito?, qualquer coisa!!Isto custa alguma coisa? Nada! Naquele dia era a coisa mais difícil do mundo com as mãos e as pernas a tremer e o coração a disparar. O pior é que sonhei a noite toda com ele, pensei nisto uma série de dias, tive-o sempre presente e a verdade é que ele ainda está presente, porque se não estivesse, eu teria falado com alguém com a maior naturalidade e simpatia. Porque de um amigo se trata. Apenas isso. Nunca mais será nada mais que isso. E apesar de nunca se dizer nunca, este nunca é tão real que dói. E ele nem me falou....

2 comentários:

sofia disse...

Meu deus, se o rapaz tiver um blog terá escrito um post semelhante e no fim dirá "e ela nem me falou..."

Anônimo disse...

Tem um blog, não escreveu um post semelhante e nunca diria "e ela nem me falou" porque cada vez mais me convenço que fui muito pouco importante para ele. E saber isto custa bastante.

"Quanto mais claro/ Vejo em mim, mais escuro é o que vejo./ Quanto mais compreendo/ Menos me sinto compreendido./ Ó horror paradoxal deste pensar... " Fernando Pessoa