Klimt

30 de janeiro de 2008

Tia

A minha tia piorou, piorou e a decisão teve de ser tomada. A minha mãe desgastou-se e aguentou até ao limite das suas forças. Mas chegou o dia e ela teve de ir para o lar. A situação que se arrastava e que já me enervava pela injustiça, pelo esforço e por algum egoísmo e comodismo do meu tio, terminou naquele dia. Estava a tornar-se insustentável e eu só queria que aquela decisão se tornasse realidade. Mas no dia em que se tornou realidade, ouvi-la dizer ao telefone que me agradecia muito e que já não ia durar muito...é tão duro saber que vamos para um sítio porque já não somos quem éramos, porque estamos dependentes dos cuidados de estranhos, rodeados de estranhos nas mesmas condições. Estamos sós. Sós até ao fim. Nada melhorará. Só piorará até ao adeus. E viver os último dias das nossas vidas sabendo isto, deve ser das piores coisas da vida. A minha família anda a abandonar-me. Ou eu ando a abandoná-la. Estamos todos cada vez mais sós.

Um comentário:

sofia disse...

Eu sei, que a familia é o nosso porto de abrigo, mas há pessoas que não são da nossa "familia", que nos podem dizer mais do que algumas que são.Eu tenho uma familia muito grande, graças a deus, e o nosso (meu e teu) "contacto fisico", é práticamente nulo, mas estás sempre no meu pensamento e orações assim como as minhas melhores amigas, ao contrário de algumas pessoas que raramente me lembro que até pertencem à minha familia.
Isto tudo para dizer, que a tua familía de certa maneira também vai crescendo.

"Quanto mais claro/ Vejo em mim, mais escuro é o que vejo./ Quanto mais compreendo/ Menos me sinto compreendido./ Ó horror paradoxal deste pensar... " Fernando Pessoa