Klimt

13 de fevereiro de 2008

Ausência/Inquietação

Estou mais distante. É verdade. Estou mais ausente. Sinto a vida a fugir-me. Não procurem entender-me, nem quero que o façam porque implica sentir que a vida pode mudar ali, naquele momento e implica sofrimento. Não quero que tenham de passar por isso. Já aqui escrevi sobre isso. Em Maio senti que o meu pai podia desaparecer ou ficar um vegetal. Nada tornaria a ser a mesma coisa. Vi isso no AVC da tia. Perder toda a minha liberdade e não viver o que queria viver. Sem escolhas. Tudo serenou. O Verão trouxe uma paixão e o viver muita coisa que não tinha vivido. A fúria de viver, a descoberta de tanta coisa, a intensidade dos sentimentos, dos desejos, a inquietação, trouxe-me muito. Em Outubro perdi isso. Voltaram as doenças. A tia a entrar e a sair do hospital. O pai internado ao mesmo tempo. A mãe com o peso de tudo. Eu com todo este peso às costas sem parar entre uma casa e outra, um hospital e outro. Faltas ao emprego para ajudar um, para ajudar outro. A minha tristeza e a minha raiva. Sofrimento, sofrimento. A compra da casa sem ninguém para me ajudar. Tudo caiu ali sobre mim. Perdi tudo naquele momento, pensava que poderia perder. E uma vez mais a sensação da minha vida mudar a qualquer momento sem eu ter vivido tudo o que queria, associada à fragilidade e depressão do momento. A juntar a isto a consciência de que estou perto dos 30. A consciência de que a casa tem de ser paga. Há um misto de emoções, de sentimentos tristes e felizes, de confusões e indecisões. A sério, não me tentem perceber. Não quero que passem pelo que a vida me trouxe de mau. Vivo com aquela fúria e sei que vai passar brevemente. Conheci pessoas novas, com gostos idênticos, com experiências e vivências idênticas. Eu sei que se nota. Eu sei que mudei. Eu sei que estou mais distante. De alguns apenas fisicamente. Por agora não consigo. Não consigo acalmar. A vida vai acabar por fazê-lo naturalmente. Nada mudo nos meus sentimentos para com os outros, ou se calhar mudou um pouco. Trago-vos sempre comigo. Mas por agora preciso de viver assim. Quando tudo isto aconteceu precisei de ficar sozinha. O afastamento de tudo foi natural. Precisava de perceber, de me recolher. Foi mesmo complicado a doença do meu pai e da minha tia, tudo na mesma altura, tudo demasiado desgastante, estando eu tão frágil naquele momento. É difícil explicar, é difícil perceberem-me. Não me levem a mal porque nada é por mal. Sei que critiquei outras pessoas por se afastarem sem porquês. Neste caso é um porquê. E eu vou estando presente. Apenas menos.

Acho que respondi mais ou menos às tuas perguntas. Seria melhor em discurso directo, conseguiria explicar melhor. Estou a viver a minha adolescência tardia, sem pensar muito em nada. Estou desgastada e confusa. Não consigo serenar. Lá diz a música do José Mário Branco: “Cá dentro inquietação, inquietação/É só inquietação, inquietação/Porquê, não sei/Porquê, não sei/Porquê, não sei ainda”. Se calhar tens razão e fui das pessoas que mais mudei. Mas é verdade que a vida é feita de mudanças e a minha tem-me mesmo obrigado a mudar. Mas no essencial eu sou a mesma pessoa e trago-vos sempre comigo. São e serão sempre uma presença constante na minha vida.

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