Klimt

27 de maio de 2008

O poder da gata

Noite cinzenta e de chuva. No interior do Coliseu o silêncio respeitador pela artista que é conhecida pelas suas alterações de humor, motivadas por toques de telemóvel ou um simples tossir. O silêncio. A voz quente de Cat power. A dirty Blues band. Voz límpida. Som perfeito. Acústica perfeita. Na minha cabeça apenas sons, palavras, melodias. A música ecoa no Coliseu. Esgotado. Olho à minha volta e só vejo pessoas. Uma multidão. Os olhos nela. O corpo nela. Os sorrisos. As lágrimas. A solidão da partilha. Estamos nela. Ali. Não há trocas de palavras, não há movimentos. Há lágrimas, sorrisos, abraços a nós próprios. Refugiados no nosso silêncio. Invadidos por aquele poder. Estar nela/em nós. Sós, connosco e com ela. O reconhecimento, a gratidão. Ela entra e sai de palco. A dança, o gesticular, os trejeitos, o moonwalk (à la Michael Jackson), o escorregar, o dobrar, o vibrar, o "estar" com os seus músicos, o sentir, o ser. Desce do palco para estar entre os seus. Com os seus. Distribui flores, setlists. Custa abandonar o palco. Foram 2 horas. Intensas. Agradece, dança, mil e um trejeitos de gratidão e reconhecimento.


Fomos um só naquela noite. Emocionou-me. Como há algum tempo não acontecia num espectáculo. Ou se calhar aconteceu, mas de forma diferente.

Ela tocaria mais. Tocaria a noite toda. Queria falar connosco, na nossa língua. Queria ver-nos de luzes acesas. Queria abraçar-nos a todos. E conseguiu. Tocou-me/nos. Um abraço gigante. O poder de uma gata. Cat power. Chan Marshall."The Greatest".

Quando saí chovia copiosamente, mas dentro de mim o calor e as cores. A minha vida escreveu-se em suaves cores nessa noite. "Wheres is my love?...where is my love?..."

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