Klimt

20 de setembro de 2008

Adolescência

Com o novo trabalho em Lisboa, regressei aos transportes públicos, que são óptimos para ler e para ver a vista do percurso de comboio da linha de Cascais, mas que são péssimos pelas filas para validar bilhetes no metro, pelos metros cheios, pelas mudanças no metro, pelas minhas malas sempre cheias e pesadas, etc.
Mas mau, mau são as conversas no comboio.
Ontem, saí do trabalho a estourar de dor de cabeça. Depois do percurso a pé para o metro, que não é assim tão curto, e da longa viagem de metro, com um estranho nublado e repentino abafado lisboeta, lá chego ao Cais Sodré para apanhar o comboio. Só queria estar sogadita com a cabeça encostada ao vidro e chegar a casa. Mas não. Tenho de levar com 7 adolescente nos bancos da frente. Falam das eleições da escola, a lista não ganhou porque x foi bué porca e porque Y disse que lhe entregaram um boletim de voto já preenchido. E depois como eram apenas 7 e cada uma tinha uma ideia mais brilhante que a outra resolveram começar a falar cada vez mais alto, atropelando-se umas às outras com ideias fabulosas como a coluna de som do amigo que é bué boa para as festas, que era muita fixe alugar o pavilhão da escola para festas, arranjar prémios para um campeonato de futebol, um desfile de moda, tinham de começar a juntar dinheiro para a viagem de finalistas, que Loret era bué fixe, porque tem bué bares e bué animação, etc, etc.
Neste momento de grande excitação destas 7 franguinhas eu já estava a fervilhar por dentro e na minha cabeça só estava a imagem de uma mordaça à volta da boca delas. Isto para vos dar uma imagem bem soft. Insuportável, angustiante, foram 20 mns de puro sofrimento e muita histeria. Infelizmente só saíram na Parede, ou seja, uma estação antes da minha. Mas foi puro alívio. Quando a galinhagem delas parou e o silêncio se instalou, nem sei explicar a serenidade que senti. Estava a ficar louca. E melhor ainda foi quando saí do comboio e consegui sentir uma brisa fresca. Não sei o que se passou ontem em Lisboa, mas subitamente o tempo ficou abafado e insuportável. E a minha cabeça a rebentar....
E não, não tenho saudades nenhumas da adolescência. Obrigada por já estar noutra fase.

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"Quanto mais claro/ Vejo em mim, mais escuro é o que vejo./ Quanto mais compreendo/ Menos me sinto compreendido./ Ó horror paradoxal deste pensar... " Fernando Pessoa