Klimt

15 de abril de 2007

Limites

Sinto-me no limite..das forças, da sanidade mental, dos nervos, da ansiedade, da revolta. Estou no limite do que consigo suportar. A minha tia avó no hospital há um mês. Os meus pais em Fernão Ferro com o meu tio avô há um mês e em idas diárias a Santa Maria. A casa por minha conta. O trabalho. As aulas. A preocupação com com os meus pais. A minha tia parte o braço. A minha prima liga-me a dizer que tenho de ir buscar a minha avó. Penso no que faço e no desespero da minha mãe que não vai aguentar mais uma preocupação, mais uma pessoa para cuidar. Penso nos nervos do meu pai e no seu coração fraco e doente. O meu irmão vai buscar a minha avó e eu venho das aulas para tratar dela. Dar-lhe de comer. Levá-la à casa-de-banho. Lavá-la, despi-la, deitá-la. Tudo em peso. Ela não anda sozinha. Apoia-se em nós e nos objectos que encontra pelo caminho. Deito-a e vou arrumar a cozinha, lavar o chão da cozinha e casa-de-banho e arrumar as coisas para amanhã ir para Fernão Ferro. Sábado acordo para a levar à casa-de-banho. Lavo-a, visto-a, penteio-a, dou-lhe o pequeno-almoço e sento-a no sofá. As minhas costas doem-me. Consigo ir almoçar com elas. O meu irmão leva-a para Fernão Ferro. Ouço as histórias de algumas delas e minimizo as minhas preocupações. Tudo se resolve. Pensar em soluções, recuperar forças. Chega a noite. Subo escadas com ela em peso. Tudo de novo. De manhã o mesmo e ela quase me faz cair pelas escadas. Não é possível. A minha mãe chora. Temos de a pôr num lar. Nós não conseguimos. Pensamo no lar muito bom em que esteve a minha tia. Muito caro. Muito caro mesmo. Mas tem de ser esse. Temos a certeza que será bem tratada. A minha avó chora. Quer ir para o lar onde ia para o centro de dia ou para o lar da terra dela. Eu digo-lhe que o lar do Penedo onde ela vai ao centro de dia está cheio. Ela está em lista de espera. Eu falo com a directora avó. E com o director do lar de Ferreirim. Eu prometo avó!Prometo que esta solução é temporária. Prometes-me fiha?Prometo avó! Esta minha neta sempre foi muito boazinha, Desde pequenina - dizes tu. Será avó, será que sou mesmo?Será que consigo cumprir a promessa que te fiz?
A minha mãe está debilitada e preocupada e no limite. O meu pai teve dor cardíaca, algo que não acontece há muito tempo.A minha mãe preocupa-se com o meu pai, o meu pai preocupa-se com a minha mãe, eu preocupo-me com os dois.
O dia acorda solarengo e brilhante. Tu choras e nós dizemos que vais ficar bem. A mãe chora, o pai chora. Deixamos-te. O lar é bom, as pessoas simpáticas. Mas nos lares só estão pessoas que não conseguem viver. Estás rodeada de não vida.Queres ir ver a missa. Ficas sentada a viver a tua fé, nas tuas orações. Damos-te beijos e dizemos-te que ficas bem. Saímos em choro e em desespero. Falamos com a responsável dizendo que ela está habituada a muito mimo.Eles falam e eu choro. Regresso atrás para ver como estás. Não me vês. Estás concentrada nas tuas orações. Pareces serena. Fica bem avó. Vejo-te para a semana, como todas as semanas. Sinto-me doente. sinto-me culpada.

2 comentários:

Anônimo disse...

há sempre uma dor cruel que nos acompanha...

sofia disse...

Complicado. Ferreirim ao pé de Lamego?

"Quanto mais claro/ Vejo em mim, mais escuro é o que vejo./ Quanto mais compreendo/ Menos me sinto compreendido./ Ó horror paradoxal deste pensar... " Fernando Pessoa