Momentos peculiares passam pelos meus olhos.
No Cais do Sodré, nas escadas que sobem do metro para os comboios está sentada uma senhora de meia-idade, muito forte, com as pernas ligadas com ligaduras (desculpem a redundância). Todos os fins de tarde lá está ela sentada. Num destes dias, eu ia apanhar o comboio e vejo um rapaz negro e jovem a falar com ela. Não percebi bem o que diziam, mas ela falava do problema que tinha nas pernas. Passei e pensei que estava a pedir esmola e a explicar ao rapaz o problema de saúde que tinha. Nem liguei muita importância aquilo.
Tenho uma memória de merda e raramente consigo citar qualquer coisa que leio. Mas tenho uma excelente memória fotográfica. Dificilmente esqueço uma cara.
Hoje lá ia eu para o comboio. E coincidência das coincidências, o rapaz vinha à minha frente. Quando passou pela senhora, parou e perguntou-lhe: "Então como se sente hoje?" E a senhora lá lhe respondeu que se sentia melhor, que estava a recuperar.
Eh pá, e eu fiquei sensibilizada. Aquele rapaz deve passar ali todos os dias e deve perguntar à senhora pela saúde dela. Não faz como eu e os restantes que passa a correr a pensar no comboio que vai apanhar. Pára e dedica alguns momentos de preocupação e de atenção aquela senhora que eu também vejo todos os dias e que todos os dias ignoro.
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