Klimt

3 de outubro de 2008

Crónica de costumes

Momentos peculiares passam pelos meus olhos.

No Cais do Sodré, nas escadas que sobem do metro para os comboios está sentada uma senhora de meia-idade, muito forte, com as pernas ligadas com ligaduras (desculpem a redundância). Todos os fins de tarde lá está ela sentada. Num destes dias, eu ia apanhar o comboio e vejo um rapaz negro e jovem a falar com ela. Não percebi bem o que diziam, mas ela falava do problema que tinha nas pernas. Passei e pensei que estava a pedir esmola e a explicar ao rapaz o problema de saúde que tinha. Nem liguei muita importância aquilo.
Tenho uma memória de merda e raramente consigo citar qualquer coisa que leio. Mas tenho uma excelente memória fotográfica. Dificilmente esqueço uma cara.
Hoje lá ia eu para o comboio. E coincidência das coincidências, o rapaz vinha à minha frente. Quando passou pela senhora, parou e perguntou-lhe: "Então como se sente hoje?" E a senhora lá lhe respondeu que se sentia melhor, que estava a recuperar.
Eh pá, e eu fiquei sensibilizada. Aquele rapaz deve passar ali todos os dias e deve perguntar à senhora pela saúde dela. Não faz como eu e os restantes que passa a correr a pensar no comboio que vai apanhar. Pára e dedica alguns momentos de preocupação e de atenção aquela senhora que eu também vejo todos os dias e que todos os dias ignoro.

Nenhum comentário:

"Quanto mais claro/ Vejo em mim, mais escuro é o que vejo./ Quanto mais compreendo/ Menos me sinto compreendido./ Ó horror paradoxal deste pensar... " Fernando Pessoa