5 de março de 2008
Impressões
Ontem andei de metro. Já não andava há muito tempo. Quando andava de metro sentia o desconforto dos olhares e refugiava-me sempre na leitura para não sentir que invadia a vida dos outros, ou que invadiam a minha. Ontem no metro senti uma estranha sensação. A vontade de olhar para todos, de invadir. Observar a senhora que olha para os pés, os adolescentes que se beijam, a jovem tímida que cruza as mãos e refugia o olhar no chão, o senhor idoso com fita-cola a colar as armações dos óculos e dedos amarelados (provavelmente por fumar muito), a velhinha que carrega sacos e uma tristeza no olhar, o jovem que ouvia MP3 exageradamente alto e tantos outros. Não conseguia deixar de olhar. De me perder na quantidade de pessoas que passavam por mim, pelas diferentes emoções que me passavam. Olhava em volta e parece que via tudo de novo. Estou tão habituada à solidão do meu carro, com o rádio a tocar e os olhos fixos no trânsito que me esqueci do contacto humano dos transportes. Contacto esse que antes me incomodava. Ontem vi um misto de vidas, de olhares e de emoções. Passei o tempo todo a olhar em volta e a pensar no que as pessoas me passavam, quem eram eles, que vidas teriam eles. Senti saudades.
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"Quanto mais claro/
Vejo em mim, mais escuro é o que vejo./
Quanto mais compreendo/
Menos me sinto compreendido./
Ó horror paradoxal deste pensar... "
Fernando Pessoa
Um comentário:
Ora aí está uma coisa que eu sempre disse: andar de transportes faz-nos ter sempre os pés assentes no chão. Ter contacto com todo o tipo de pessoas, sermos mais um na multidão. Para mim isso é importante e faz parte da minha vida. Ir para casa cansada, triste, desmotivada e ver uma grávida com olheiras até ao queixo com dois miúdos pela mão e cheia de sacos de supermercado. E de repente os nossos problemas ganham outra dimensão. E tudo isto pela módica quantia do passe social! Terapêutico.
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